quinta-feira, junho 28

Perturbação


Não sei que fazer com esta inquietação
Já não é apenas tristeza mas uma inquietação…
Que é isto que me destrói por dentro e me perturba o mundo?
Este desassossego que me aniquila e me não deixa sã

Sussurram-se-me pela cabeça adentro demências, loucuras...
Não sei como livrar-me delas…
Arruínam-me a lucidez, iludem-me a razão
Perturbam-me a alma!
Corroem-me o espírito e me conduzem à insânia

terça-feira, junho 26

Sinfonia de uma Noite Inquieta



«Dormia tudo como se o universo fosse um erro; e o vento, flutuando incerto, era uma bandeira sem forma desfraldada sobre um quartel sem ser.
Esfarrapava-se coisa nenhuma no ar alto e forte, e os caixilhos das janelas sacudiam os vidros para que a extremidade se ouvisse. No fundo de tudo, calada, a noite era o túmulo de Deus (a alma sofria com pena de Deus).
E, de repente - nova ordem das coisas universais agia sobre a cidade -, o vento assobiava no intervalo do vento, e havia uma noção dormida de muitas agitações na altura. Depois a noite fechava-se como um alçapão, e um grande sossego fazia vontade de ter estado a dormir.»

in O Livro do Desassossego composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de lisboa - Fernando Pessoa